Um Corvo na Janela com a Asa Quebrada

por Diego Quadros
16 minutos de leitura

(Flores!  Tulipas? Rosas?)

The wind howls like a hammer

The night blows cold and rainy

My love she’s like some raven

At my window with a broken wing

Bob Dylan, “Love Minus Zero/No Limit”

Tenho uma tela em branco à frente e dedos inertes sobre o teclado. O relógio marca meia-noite. Só então desvio o rosto da página vazia pra janela. Tornou-se meio que um ritual, olhar pra ela no momento em que você costumava pousar sobre o parapeito. Você provavelmente daria risadas ao ler esta frase, mas eu sempre soube. Sim, sempre soube quem era. Como? Bem, ainda que tenha passado uma temporada no Inferno, voltei pro mesmo lugar onde sempre vivi e onde provavelmente vou definhar. Agora, vejam só, não existem corvos por aqui! Nunca existiram! E qual outro corvo viria do hemisfério norte pra me assombrar com tanto desvelo?

É claro, estou me valendo da insuportável ironia enraizada por dentro. Tratava-se de uma preocupação genuína, disfarçada de mero acaso – eu também sempre soube disso. Eu sentia isso. Eu visualizava o sorriso por trás dos teus olhinhos de pássaro preto. “Como Poe, poeta louco americano, eu pergunto ao passarinho, assum-preto, blackbird, o que se faz?” Mas Belchior segue dizendo que “o passado é uma roupa que não nos serve mais”, e eu não quero esquecer as coisas boas do passado, assim como você grasnava que lembraria de mim pelas minhas capacidades, não pelas loucuras e atitudes patéticas. Ademais, estou defronte ao computador pra escrever sobre Bob Dylan, e o Belchior que espere sua vez.

Assim, continuo a lembrar tua plumagem delineando uma silhueta na contraluz que vinha da rua. Você sempre foi um corvo diferente. Uma ave que chegava na janela e dizia: “Cada vez mais!” Quoth the raven: ever more! Era como se grasnasse: “Agora já era, não vem não querer minha ajuda, vai ter que me aguentar pra sempre”, e eu me sentia tão reconfortado que jamais poderia imaginar que, em tão pouco tempo, transformaria o único corvo que tentou me agarrar com as patas e voar comigo pra fora do poço num pássaro do poema do Poe – eta louco americano. Nunca mais! Nunca! Mais!

Mas não vou transbordar os baldes com lágrimas antes de escrever a homenagem ao Dylan, que também é uma homenagem a você, corvo, que está no verso final de uma das músicas favoritas, de um dos discos favoritos. Amor menos zero dividido por nenhum limite. Tenho Bringing it all back home em vinil, na prateleira inferior da estante, debaixo de pilhas e mais pilhas de livros. Vai dar trabalho? Vai! Que se foda! É causa nobre. Quero ouvir Dylan e expiar minhas culpas. Lembrar do que poderia ter sido, e não vislumbrar o que nunca vai ser. Além disso, o nome do álbum tem a ver com o momento. Depois de botar os pés no Hades e conseguir retornar, é só o que desejo agora: trazer tudo de volta pra casa. A que existe dentro da minha cabeça. Seja ela onde for.

Desencapo o bolachão e o ponho a rodar na vitrola. Ah, como é bom o chiado da agulha nos sulcos, não acha? Escolho Love minus zero de cara. Quarta faixa do lado A. Sei que vou marejar horrores quando chegar no final, porque Dylan pinta a imagem exata do que fiz – eu quebrei as tuas asas.

Evito recordar a barbárie. Não agora, que há trabalho a fazer no papel do software de textos. Sento novamente em frente ao computador. Sabe o que vejo? Teus contos. Adorava tuas histórias, corvo. E ainda gosto. Nunca menti sobre o talento. Elas me mandigavam, coisas de magia, sei lá, bruxarias e encantos, ainda que certos trechos fossem caneteados e demarcados com severidade (ou estupidez), quando exercia minha função imaginária de editor | revisor. (É, eu concordo. Devia ter sido mais paciente. Mais humano. Menos… insano? Selvagem? Cruel?)

Dylan já canta Outlaw blues. “Tenho uma mulher em Jackson. Não vou dizer o seu nome. Ela tem a pele morena, mas eu a amo de qualquer maneira.” O trecho me perturba. Deixo a canção rolando, no entanto, porque também me sinto um fora da lei. O ritmo contagia. Até esqueço, por alguns momentos, a angústia corroedora da tua ausência, ó, ave noturnal “que está batendo a meus umbrais.” Lembra A divina comédia? “Deixai aqui toda a esperança, vós que entrais.” Pois eu entrei foi na merda. A divina tragédia, quem sabe? Demoníaca tragédia? Qual o melhor título pra um texto?

Hahahá. Dylan se reviraria na tumba se já fosse morto, e nós daríamos belas gargalhadas dessa bobagem. Ou não? Já nem sei mais o quê. Perdi meu último ponto de referência desde que te enxotei da janela e me afundei na obscuridade de um espírito doente. Sinto até medo de ser um indivíduo perverso e nunca ter dado por isso. O disco introduz a gaita fanhosa de On the road again. Penso no livro de Kerouac, um dos gurus artísticos do Dyloso. Quem nunca desejou meter o pé na estrada, né?

Sabe que eu já li duas biografias dele (do Dylan, não do beatnik) e não recordo que outros livros ele gostava? Sei que, quando morava de favor na casa de amigos, ele costumava passar a noite em claro, lendo tudo disponível na estante dos anfitriões, de poemas a livros de história, passando por jornais e o que quer que tivesse letras. Será que já leu A pata do macaco? E Blackwood? Qual será que lhe causou mais medo?

Na vitrola, começa O centésimo décimo quinto sonho de Bob Dylan, uma narrativa surreal com mais palavras e personagens do que boa parte dos contos que vi por aí. A canção leva uma eternidade pra acabar, e eu ainda nem comecei a digitar no teclado. Ela também remete ao Trocentésimo sonho de Diego Quadros, um dos poucos que lembro, e dos raríssimos que não viraram pesadelos. Foi assim: nos encontrávamos numa Porto Alegre onírica e caminhávamos às risadas pelo Parque da Redenção, conversando sobre os projetos que um dia seriam grandiosos, se… bem, se fossem pra frente. Eu até botaria essas imagens no papel, mas os dedos não respondem. 

Pra ser honesto, viajar que estou conversando com você, corvo, me parece a melhor coisa a fazer agora. Sei lá se é loucura, mas isso me deixa menos pior. Se já é foda ter a cabeça repleta de culpa e remorso e arrependimento, multiplique por uma dose elevada de ansiedade e o resultado é chuva pesada caindo ao redor. 

Levanto-me e vou até o toca-discos pra botar o lado B. Abre com Mr. Tambourine Man, e tem algo nessa letra que me conforta um pouco: “Meu cansaço me espanta, estou marcado a ferro nos pés, não tenho quem encontrar e a rua antiga e vazia está morta demais pra sonhar.”

Deve ser isso. Não quero sonhar mais, porque realizo que me tornei um criador e destruidor de esperanças – as minhas e as alheias. Um mestre das ilusões. Um farsante. Um charlatão. Um estelionatário. Se faço por mal? Certamente não. Se faço o mal? Desconfio que sim.

Ainda não esqueci as expectativas que gerei pra depois atear fogo, e não sou covarde o bastante pra fingir que isso nunca ocorreu ou que não tenho nenhuma responsabilidade sobre. É uma das maiores contrições que sustento. E vai levar um bom tempo pra que pare de incomodar – se é que vai desaparecer algum dia. Daria até uma letra de música, ao ritmo de um blues dançante. Blues dos contadores de histórias frustrados:

Ei, vamos formar uma parceria?

Legal, e sobre o que seria?

Você escreve histórias

E eu faço a revisão

E no verão aí do Norte

E no inverno aqui do Sul

A gente arrisca uma tradução.

(Mas os projetos não tiveram sorte!)

(Putz, só tomamos no…)

Não sei se me deprimo ou acho graça ao pensar nisso. É triste, com certeza. Não só pela ausência de valor estético como pela referência ao meu comportamento deplorável (gostaria de ser um rimador de rimas difíceis, como o próprio Dylan).

Então, Gates of Eden surge pra me trazer à memória os contos de fadas. “Os reinos da Experiência no vento precioso apodrecem, enquanto miseráveis trocam de posses, cada um desejando o que tem o outro. E a princesa e o príncipe discutem o que não é real. Não faz diferença dentro dos portões do Éden.” Não é curioso como a situação de um corvo na janela assombrando-inspirando um criador-destruidor de fantasias, por si só, já não funciona como um conto de fadas? Daquelas versões originais, bem antigas, em que o final era a mais pura tragédia. A vovozinha digerida pelo Lobo Mau. O Patinho Feio chutado da sociedade até morrer bêbado e esquecido numa viela escura da periferia. Os patrões da criada esquartejados no meio da estrada após um assalto à carruagem. O escritor que não resolve seus pensamentos destrutivos, enquanto chafurda no estrume.

Teu grasnado ainda ecoa nas paredes internas do meu crânio, corvo. “Você é melhor do que isso. Você tem valor demais pra simplesmente desaparecer.” E, de um lado, eu sentia o coração aquecer; do outro, afundava ainda mais a cara na bosta. Sabe o que tenho aprendido com isso? Não é bom morrer solitário. Não é nada bom viver solitário.

Penso noutro dos meus discos favoritos, Nashville Skyline, de 1969. Você já esteve em Nashville durante teus voos pela terra das oportunidades, corvo? Já bateu asas embalado pelas músicas da capital da country music? Faixa quatro, lado A (porra, será que todas minhas preferidas sãos as quartas faixas dos lados A? Logo eu, que me sinto tão lado B!): I threw it all away. É engraçado como o Dylan tem um espelho pra cada fase das nossas vidas, do nono círculo do Inferno ao trono do Criador nas dimensões celestiais. 

“Um dia tive montanhas na palma da mão”, ele canta. “E rios que atravessavam cada dia. Mas devo ter ficado louco. Nunca soube o que tinha até jogar tudo fora.” E, mais adiante, finaliza: “Então, se encontrar alguém que te dê todo seu amor, guarde no peito, não deixe escapar. Pois uma coisa é certa, você com certeza vai sofrer se jogar tudo fora.”

É inevitável comparar a canção com os últimos meses, em que dinamitei cada uma das minhas montanhas até que virassem partículas soprando no vento. Em que sequei os rios por onde minhas oportunidades navegavam em seus barcos de confusão, nos quais eu mesmo provocava motins de proa à popa. Meses em que agredi cada um dos que me cercavam, afastei todos que tentavam me estender a mão. Mas ainda tinha você, corvo, que insistia em pousar na janela no dia seguinte aos acessos de fúria pra grasnar: “Tudo bem por aí? Still friends?

E eu dizia que sim, e eu achava que sim, e eu acreditava que sim.

Até jogar tudo fora.

It’s alright, Ma (I’m only bleeding) me traz de volta pro disco em execução. “E se meus sonhos-ideias pudessem ser vistos, eles provavelmente botariam minha cabeça na guilhotina. Mas tá tudo bem, mãe, é a vida – e só a vida.”

Perceber que Bringing it all back home chega ao seu fim me transporta a outra canção gravada nas sessões deste álbum, mas que acabou ficando de fora (Dylan é o rei de cortar do disco faixas que são obras-primas), Farewell, Angelina. E eu gostaria de poder cantar pra você: “Não há motivo de raiva, não há motivo de culpa. Não há nada a provar, tudo segue na mesma. Adeus, Angelina! O céu está tremendo e eu preciso partir.” Mas eu sei que estaria mentindo, porque você tem motivos pra raiva, eu tenho meus motivos pra culpa e tudo não segue na mesma.

Ok, sei que teu nome não é Angelina. Eu, inclusive, jamais descobri o teu segundo prenome.

Isso importa agora?

Bem, pra mim importava.

E ainda preciso escrever o texto pro aniversário do Dylan. Que saco! As ideias simplesmente não fluem. Ao invés disso, fico aqui buscando referências de canções dylanescas que caberiam perfeitamente a você. 

Eu poderia retroceder dois álbuns anteriores ao Bringing e rodar o bolachão de The times, they are a-changin’. Poderia tocar Boots of Spanish leather e ouvir o personagem dizer à amada, ciente de que ela não vai mais voltar: “Se cuide nessas águas tempestuosas. E, sim, tem algo que você pode me enviar: botas espanholas de couro espanhol.”

Ou, melhor, tocaria a música que abre o disco seguinte, Another side of Bob Dylan. All I really want to do. “Eu não tô procurando competir com você”, soaria pelos alto-falantes. “Ganhar de você, te enganar ou te maltratar. Te simplificar ou classificar, negar, desafiar ou te crucificar. Tudo o que eu quero fazer, querida, é ser seu amigo.” E no verso seguinte: “Não, eu não tô procurando brigar com você. Te pôr medo ou te deixar tensa. Deixar pra baixo ou te pôr pra fora. Acorrentar ou te desanimar. A única coisa que eu quero fazer, querida, é ser seu amigo.”

O cara é foda, parece ter resposta pra tudo.

Mas será que tem mesmo? Não falo nem do Dylan humano, cheio de falhas e vícios como qualquer pessoa. Refiro-me ao seu eu-lírico. O que ele responderia se eu dissesse que já cansei de afastar os corvos, os bons corvos, da minha vidinha de merda? Será que cantaria um trecho de Black crow blues? “Corvos pretos no campo, do outro lado da estrada. Pode ser engraçado, querida, mas hoje eu não estou muito pra espantalho.”

O disco já parou de tocar aqui. Agora, o silêncio da noite, estilhaçado pelas vozes no interior da cabeça. A verdade é que, desde que você se foi, me sinto um Napoleão esfarrapado, espalhando meu sangue nas trilhas e ouvindo You’re gonna make me lonesome when you go e coisas do tipo. “Oh, irmã, quando eu bater em sua porta, não me mande embora. Você criará tristeza. O tempo é um oceano, mas termina na costa. Você pode não me ver amanhã.”

Não tinha como ser diferente, claro.

Não é segredo que eu não costumo – e nem consigo – ser um ator. Impulsivo demais pra controlar ou esconder emoções. Os dissimulados que caiam fora do novo, se não conseguem dar as mãos. Então, não vou fingir que não houve nada na última noite em que você pousou na janela e grasnou as palavras mais alentadoras e motivantes, estendendo-me as asas pra me tirar da areia movediça, e eu, ao invés de aceitar a ajuda, afugentei a única criatura que ainda se arriscava pra tentar me salvar. E o fiz da pior maneira que pude. Fora de mim, é verdade. Mas hostil, agressivo, alucinado, projetando e descontando no único ser próximo àquele momento o ódio e as frustrações em relação a mim mesmo.

Como tratei tão mal alguém que me tratava tão bem?

Em seguida, veio a era das trevas, os dias de tortura, dias de desespero, de extrema solidão. Você bem que poderia fazer o papel daquele fã revoltado com a mudança do violão pra guitarra elétrica no show de Manchester e me gritar: “Judas!” Ou bancar o próprio Dylan nesta mesma situação e dizer: “Eu não acredito em você. Você é um mentiroso!”, antes de virar pra The Band e ordenar: “Toquem essa porra bem alto!”, e, em seguida, iniciarem Like a rolling stone. E você teria (e tem) mesmo o direito de vociferar, apontando-me o dedo e rindo da minha cara: “Como que é? Como que é? Estar sem ninguém. Sem um caminho pra casa. Como um total desconhecido. Como uma pedra que rola.”

E é aí que finalmente me vem uma ideia pra escrever. Sobre o corvo na janela com a asa quebrada referido nos últimos versos de Love minus zero/no limit. É claro que é uma versão fabulizada, fictícia, pesarosa e pessoal. Sabemos que você não é um corvo. Que se trata de uma singularidade, de tamanha brandura que estradeiros só encontram a cada dois ou três mil quilômetros de andanças, de quem tive o prazer de ser comparsa no crime, ainda que por uma centelha no tempo, e traçar planos artísticos que incendiaram comigo. Uma gravurista que faz de instrumento as palavras, com um domínio da linguagem e um poder de imaginação que se projetam das legiões. Uma efígie amistosa que relevou por vezes e mais vezes minhas loucuras, a fim de tentar manter a parceria quando já ninguém mais acreditava que eu tinha volta. Cujas últimas palavras foram: “Você é só um cara tentando fazer o melhor num mundo de merda.” 

Não vai ser um texto com ares de contos de fadas, porque a história não termina bem e nem de longe lembra o “viveram felizes pra sempre.” Mesmo porque viver é um blues de doze compassos e a felicidade é tão eterna quanto a duração de uma nota. Mas vai ser uma justa homenagem a dois artistas únicos: o bardo fanho norte-americano e a escritora meio uma coisa, meio outra, ambos com uma capacidade espantosa pra elaboração de metáforas.

Animado com ideia, retorno ao toca-discos e deito a agulha em Bringing it all back home outra vez. Eu ainda preciso trazer tudo de volta pra casa. Agora, vai desde o início. Primeira faixa do lado A. Subterranean homesick blues (Blues subterrâneo com saudade): “Melhor ficar longe de quem anda com uma mangueira de incêndio. Mantenha o nariz limpinho, cuidado com os paisanos. Você não precisa do homem do tempo pra saber de que lado o vento sopra.”

Agora existe uma parede entre nós

Algo se perdeu

Fiquei mal acostumado demais

Fiquei com os sinais cruzados

Só de pensar que tudo começou

Numa manhã tranquila.

“Pode entrar”, ela disse. 

“Eu te darei abrigo da tempestade”

Bob Dylan, “Shelter from the Storm”

***

Agora, garotinho perdido, ele se leva tão a sério

Se gaba de sua tristeza, gosta de viver perigosamente

E quando menciona o nome dela

Ele me fala de um beijo de adeus

Ele tem é muita coragem, pra ser tão inútil e tudo mais

Balbuciando bobagens pra parede enquanto eu estou no corredor

Como é que eu posso explicar?

Ah, é tão difícil se acertar

E essas visões de Joana, que me fizeram passar a noite em claro

Bob Dylan, “Visions of Johanna”

(Tradução de Cetano Galindo)


Confira uma análise detalhada desta história em forma de podcast feita pela IA:


Capa da antologia "Os Tempos, Eles Mudaram", mostrando uma ilustração de Bob Dylan caracterizado conforme a época da turnê Rolling Thunder Revue.

Este conto foi publicado originalmente na antologia “Os tempos, eles mudaram – uma singela homenagem aos 80 anos de Bob Dylan!”, lançada pelo selo editorial independente Ficções Pulp! A obra está disponível por um preço simbólico na Amazon, caso desejem conferir.

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